Um ano... todos os trezentos e sessenta e seis dias, desde aquele 05 de julho foram de alguma dor. Cada amanhecer trazia a certeza da ausência. Ausência da dedicação constante e amorosa. A cada dia que se passou, não houve menos tristeza, não houve menos desesperança...
Antes, havia a certeza da família, centrada nela. Ela que, atenciosa, ligava todos os dias para saber se as "crianças" estavam bem, se a filha não queria um pouco do doce que estava pronto, enchendo de um amarelo brilhante e saboroso a compoteira de cristal...
Tecia, com mãos já bem trêmulas, peças para aquecer aqueles que amava, peças que mostravam a habilidade presente, mesmo com o malvado Parkinson que a perturbava -lembranças de uma vida rica e criativa...
Tricotei, há pouco tempo, uma touca para a Sophy e ela a usa sempre que está frio... me fez lembrar de quando a Mãe me ensinou a colocar os pontos na agulha e a fazer um ponto bem bonito. Gostava quando ela passava a mão sobre meu trabalho e dizia, admirada: como teu ponto é parelho... sentia-me acariciada pelas palavras, mais que pelas mãos...
Domingo, já estava combinado: a galinha da Petisqueira, bem assada... e a malandra não abria mão daquela pelezinha bem tostada, não importava o quanto a gente reclamasse -olha o colesterol! a polentinha frita -olha o colesterol! a maionese de batatas -olha o colesterol! Não adiantava, ela comia com gosto infantil as delícias que lhe tinham sido negadas por muito tempo... Tempos difíceis e pobres, que ela lembrou naquele último domingo ensolarado em que levei uma tortinha de palmitos e ela, ativa e curiosa, quis saber como se fazia... Não cheguei a lhe dar a receita, ela se foi antes que pudesse fazê-lo, mas até hj, cada vez que a turma diz que a tortinha está ótima, dedico-a à Mãe e ao seu carinho...
Olho para mim e percebo, por trás dos óculos, o mesmo olhar e a mesma curiosidade... A família, aquela família, se desfez... Não há mais nada que nos una, a partilha que se anuncia encarregou-se de estilhaçar os afetos e tornar desconhecidos os rostos de antes... As coisas tomaram o lugar dos sorrisos... Sorte que tenho meus filhos amados, meu companheiro querido e meus gatos e amigos... Com eles, posso suportar a vida sem o amor de minha Mãe...
5 comentários:
É baby...... uma vez eu te disse que a dor ameniza, mas que a falta, a saudade e o vazio, nunca, jamais passarao.......
Eu sei bem como e esta dorzinha muda, companheira de olhares, num canto da casa, que por vezes engrandece e parece quase sair boa a fora.....
Mas sabe, uma das coisas das [poucas] quais me orgulho, é ter conseguido fazer da dor, uma companheira menos inimiga e mais recordante. Em certos dias parece que ela mesma [a dor]tricota comigo alguns novelos de assuntos, ja que a boca que os deveria entonar, hoje ja nao pode mais falar.... Mas tambem aprendi a ouvir no silencio, as risadas boas dela, os xingoes quando faço algo errado, e a frasezinha que me fazia rir : "ai, minha filha, so tu mesma....".
Aprendi [pelo menos um pouco] a usar as coisas que vi, ouvi, e vivi, mesmo quando elas nao se fazem presentes, para me acompanharem pra vida toda.
Nao imagino a cor da tua dor, ou o lancinante fisgado dela, mas tenha certeza que sempre teras um olhar e um sorriso, cúmplices por partilharem a mesma companhia, nao so da amizade, mas da ausencia do nosso chao.
Mais um ano se foi e parece que foi ontem..... mas outros virao, e as lembranças ruins, que se passaram ou se aproximam, tambem vao passar, e daqui um tempo tudo sera lembrado de uma forma mais amena, ate o diaem que tudo sera lembrado....como familia. Exatamente assim como e, complicada, triste e feia as vezes, mas com muitas risadas, veroes e laços que ainda e sempre os ligarao.
Te amo, e espero que teu dia de "uma ano sem voce" termine com um sorriso ainda que singelo, por lembrar sim tudo de bom que houve, e deixar pra amanha as partes mais tristes....
O segredo nao esta na massa, e sim nas maos que a torna pão.
beijos.....
Queridona!
ainda bem q tenho AMIGAS e AMIGOS, entre os quais estás, num lugar especial... só assim a gente vive feliz,independente das coisas doloridas da vidinha...
obrigada por estar sempre presente!
te adoro, minha menina!
ow, minha linda... sinto cada palavra soando no meu peito e queimando na minha alma. não sei se estou sendo muito pretenciosas, mas eu entendo muitíssimo bem o significado da palavra ausência...
e é ela quem me faz vir aqui professar o meu carinho, o meu amor - de todo e para todo sempre - que eu tenho só para ti!
beijos da tua amiga (de verdade, podes crer!)
http://nadacontraoverso.blogspot.com/
Postar um comentário